AMBIENTOTERAPIA
Adrianna Zucchi
Psicóloga Clínica
O termo Comunidade Terapêutica foi popularizado por Maxwell Jones, a partir de
1959, para definir as experiências desenvolvidas em um hospital psiquiátrico, baseados nos
trabalhos de Sullivan, Meninger, Bion e Reichman. Suas experiências eram baseadas na
adoção de medidas coletivas, democráticas e participativas dos pacientes tendo como
objetivo resgatar processo terapêutico a partir da transformação da dinâmica institucional. A
idéia da Comunidade Terapêutica vinculava-se à idéia de tratar os grupos como se fosse um
"organismo psicológico" (Jones, 1972).
Segundo Osório, uma comunidade terapêutica para crianças e adolescentes deverá ser
uma espécie de “lar-clube-escola”, onde o paciente possa encontrar oportunidades de
convívio e ocupação semelhante as do ambiente em que vive. Ainda, pressupões a
necessidade de contarmos com uma estrutura semelhante ao grupo familiar original, a partir
de onde possamos tentar a recomposição das relações objetais primárias do paciente,
oferecendo-lhe novos e mais sadios modelos de identificação.
Inicialmente esse atendimento era destinado aos pacientes adultos, mas depois a crianças e
adolescentes, utilizando recursos lúdicos, tomou uma configuração que lhe é própria pela
função pedagógica que amplia as possibilidades terapêuticas. Incluindo rotinas diárias de
atividades, tais como aulas, recreação, passeios, etc...
Quanto à equipe necessária para este tipo de atendimento, segundo a bibliografia
encontrada, seriam psiquiatras, neuropediatras, psicólogos, assistente social, psicopedagogo, enfermeira especializada, além de praxiterapeutas, professores e atendentes psiquiátricos (em
número variável na proporção de um para cada quatro a oito crianças em média). Os pacientes
devem ser divididos conforme a faixa etária e funcionamento sendo desenvolvidas atividades
planejadas pelo profissional específico, além de reuniões comunitárias, sendo que o paciente
torna-se “agente terapêutico”, assim como o terapeuta e as atividades comunitárias já são.
Em Porto Alegre (RS), foi fundada em 1983 a Comunidade Terapêutica D.W. Winnicott,
uma clínica especializada no atendimento de crianças e adolescentes com problemas
psiquiátricos. Organizada por um grupo de profissionais coordenado pelo Dr José Ottoni
Outeiral, na época estava estudando o autor D.W. Winnicott. Assim centrados em um
referencial psicodinâmico, sob a influência dos estudos realizados de Donald Wood
Winnicott, abrangendo o entendimento das relações mãe-bebê, bem como a importância de
um ambiente continente, capaz de proporcionar ao indivíduo, condições suficientemente boas
pra seu desenvolvimento, batizaram o nome da clinica. Inspirada no modelo
ambientoterápico da Clinica Pinel, também de Porto Alegre fundada em 1965 sendo a
primeira do Brasil, chamada de Comunidade Terapêutica Léo Kanner (atualmente não existe
mais).
A Comunidade Terapêutica D.W. Winnicott oferecia serviços de internação
psiquiátrica e ambientoterapia, além de um serviço de acompanhamento terapêutico e
consultas ambulatórias de psiquiatria e psicologia. Focalizou seus estudos e atendendimentos
com crianças e adolescentes do Espectro Autismo, muitos trabalhos e casos, foram lá
discutidos e apresentados em Congressos de âmbito nacional e internacional. Deu-se ênfase
à pesquisa, à investigação, ao desenvolvimento de técnicas para o trabalho com pacientes
com esta dificuldade emocional, sendo que muito dessas técnicas ainda é utilizado.
Atualmente, passados 38 anos, a realidade de atendimento da Clínica modificou-se,
adaptando-se às exigências do nosso meio. A comunidade terapêutica oferece atendimento
em regime de hospital turno, manhã ou tarde e hospital dia estendido (dia inteiro mais final
de semana) centrada no desenvolvimento de atividades ambientoterápica que visam à
socialização, autonomia, controle adequado de impulsos e melhora da autoestima. Os
pacientes trabalham em grupo formados de acordo com a idade e o nível de desenvolvimento,
orientados por estagiários de psicologia, psicopedagogia, fonoaudióloga e nutricionista, além
de dois a três coordenadores responsáveis pelo turno, que são psicólogo e/ou psicopedagogo.
O trabalho com os familiares também é oferecido tanto em grupo de pais como
individualmente.
A clientela da ambientoterapia compreende a faixa etária entre 4anos a 35anos,
aproximadamente. A demanda atende Autismo, Retardo Mental Leve e Moderado,
Esquizofrenia, Transtornos de Humos Bipolares, Transtorno de Depressão, Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno de Conduta, Transtornos de Ansiedades,
Transtornos Alimentares, Transtornos Bordelines e Dependência Química.
A Clínica Winnicott funciona em uma casa nova com mais espaço e um ambiente
acolhedor e com todas as precauções em ralação a Pandemia. A recepção (secretárias e sala
de espera), a direção e oito consultórios destinados ao Serviço de Ambulatório (atendimentos
individuais, familiares e de grupo), quatro salas e uma salão para ambiento, sala de reunião,
sala para estagiário, um refeitório, cozinha, seis banheiros. As salas de grupos para os
pacientes da ambientoterapia, um salão multiuso (cinema, festas, ping-pong, encontros
científicos etc), uma sala de materiais, uma sala de informática, umasensorial, também um
pátio relativamente grande, horta e espaço para quadra de esporte.
O planejamento de atividades com os pacientes da ambientoterapia segue um cronograma
semanal previamente elaborado pela psicopedagoga e psicólogo tais como: atividades
praxiterápicas, hora do computador, grupo operativo, atividades físicas, atividade culinária,
hora do conto, cinema, atividades de higiene, passeios entre outros.
Quanto à questão pedagógica não há objetivos educacionais claros nas atividades propostas,
pois são dirigidas para o entendimento emocional dos pacientes, sendo sentidas pela equipe
como integrantes do sistema terapêutico global. O objetivo é sempre o da reorganização
egóica. A psicopedagoga tem como tarefa incluir no tratamento as técnicas psicopedagogicas
e educacionais, favorecendo a aquisição de novos comportamentos e a ampliação de
conhecimentos.
Aos psicólogos cabe a tarefa de coordenação de turnos e de grupos e a responsabilidade
do plano terapêutico de um número específico de pacientes, bem como o contato com a
família e outros profissionais envolvidos que sejam fora da Clínica.
A base teórica é a linha psicanalítica, fundamentalmente as teorias desenvolvidas pelo
autor D.W. Winnicott, relacionadas ao ambiente: Mãe Suficientemente Boa, Holding,
Handling, Ambiente Facilitador. Conceitos relacionados a Falso e Verdadeiro Self, Objetos
e Fenômenos Transicionais, Espaço Potencial, Transferência e Contratransferência,
Psicossomática entre outras também são estudados pela equipe.
O Ambulatório nos últimos anos, com o fechamento da internação ampliou-se para todas
as faixas etárias de pacientes, nas modalidades de psicoterapia individual (crianças,
adolescentes e idoso), terapia de casal e família, atendimento psicopedagógico, atendimento fonoaudiológico, atendimento nutricional, atendimento psiquiátrico, avaliação psicológica,
acompanhamento terapêutico e tratamento para dependentes químicos.
Os pacientes chegam através dos convênios que a Clinica oferece escolas e profissionais
de fora, passam por uma triagem da qual avalia a situação e faz as indicações terapêuticas. A
equipe de profissionais se reúne uma vez na semana para discussão, supervisão e estudo de
casos clínicos.
Além do serviço de Ambientoterapia e Ambulatório a Comunidade Terapêutica D. W.
Winnicott promove curso anual de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico (AT),
grupos de estudos e palestras para escolas.
Ao longo desses 38 anos de existência muita experiência foi adquirida, um aprendizado
que não termina nunca, nossos pacientes exigem muita dedicação e paciência, mobilizam
toda equipe promovendo uma interação e união entre os profissionais.
Psicóloga Adrianna Zucchi CRP 07/05068, psicoterapeuta de crianças, adolescentes e
adultos, especialista em família e casal, ex-diretora da Clínica Winnicott, coordenadora do
serviço de AT, fundadora e coordenadora do hospital dia estendido.
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